O apóstolo Paulo é conhecido por sua vasta erudição, sendo um homem que foi capaz de dialogar com reis, filósofos e sacerdotes. Além disso, Paulo era um homem piedoso, sendo uma pessoa que teve experiências marcantes na sua vida e ministério. No apóstolo dos gentios não havia separação entre cabeça e coração, fé e razão, Bíblia e oração, teologia e piedade. Ele era incapaz de criar tais dicotomias. Um das maiores experiências espirituais do teólogo Paulo foi um arrebatamento ao paraíso (Leia I Co 12. 1-10).
Antes de analisar exegeticamente esse texto, é necessário marcar alguns pontos. No contexto pentecostal há excessiva valorização das experiências em detrimento da análise e da reflexão. Exemplo disso é o grande tempo dispensado no culto para testemunhos ou histórias que envolvem sonhos, visões, profecias e livramentos divinos. A experiência é em si importante, mas não no patamar prioritário que muitos ministérios consideram.
Experiência
Falando do contexto político, o jornalista Reinaldo Azevedo escreveu que “a experiência ilustra o pensamento, provoca-o, informa-o, convoca-o a avançar. Mas não o substitui” [1]. Tal princípio também serve para a teologia. A experiência pessoal ilustra o pensamento teológico, provoca a reflexão doutrinária, informa as complexidades dos estudos sobre o divino, convoca a avançar, mas não substitui a própria Bíblia, que é a fonte de todo o conhecimento teológico.
Quando o famoso avivalista Jonathan Edwards pregava o famoso sermão “Pecadores na Mão de um Deus Irado” [2] muitas pessoas caiam, pois sentiam o próprio inferno sob suas pernas. Ora, que bela e tremenda experiência. Mas não passa disso: uma experiência temporária e específica daquele momento (redundância necessária). Não lemos que isso se repetiu em todos os sermões de Edwards. E nem que o avivalista americano ensinou tal experiência como padrão para pregadores.
O brasileiro, com sua raiz ibérica (Portugal), indígena e africana; sofre com o pensamento baseado no privilégio imediatista, na indolência e na crença mágica, que resolve todos os problemas em um toque [3]. Mesmo o menos religioso sempre sonha que ganhará na loteria. Nesse sentido, pregações que focam experiências mágicas e bem sucedidas fazem um tremendo sucesso debaixo da linha do Equador.
Teologia empirista
Constitui-se em uma verdadeira tragédia a “teologia empirista”. Empírico é o saber que resulta da experiência. Muitos pentecostais, neopentecostais e teólogos ditos liberais construíram sua teologia baseada na experiência. Os primeiros determinaram suas crenças pelo estado de graça que furtivamente irrompia na vida religiosa, enquanto os segundos determinaram suas crenças no curso cotidiano da vida. Daí nasceram justificativas para liturgias exóticas e teologias de minorias (teologia negra, teologia feminista, teologia verde, teologia do pobre) etc.
Teologia empirista é esoterismo e não cristianismo. Conhecimento empírico ainda serve para poetas e místicos, mas não para mestres da Palavra de Deus. O saber bíblico que deve julgar a experiência, e nunca o contrário. A fé cristã é racional, sem ser racionalista; é analítica, sem ser cética.
“Eu creio em milagres”
Arrogantemente alguns interpretam que lutar contra o empirismo na construção teológica é o mesmo que o desprezo da experiência na vida cristã. Não, não é. Experiência faz parte da vida. Uma oração especial, um alívio após intercessão, um milagre, um choro de alegria, um louvor que conduz ao choro... Tudo isso é experiência que não pode ser normatizada, mas quem passa por elas jamais esquece. E como é bom para o cristão esses momentos. Não se vive em um mundo deísta, pois Deus se relaciona pessoalmente com seus filhos.
Também, tal embate não deve levar a pensar que é uma forma de minimizar a soberania de Deus. Sim, Deus faz o que Ele bem quer, mas o Senhor não se contradiz. Sim, Deus pode fazer qualquer coisa, mas Ele não escolhe fazer tudo. Há uma coerência nas escolhas do Senhor. Se Ele mesmo determina algo em sua Palavra, jamais vai contrariar a mesma.
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